Depois de revisar para baixo a maior parte das projeções para 2009, a cadeia da construção civil está otimista para 2010. O crescimento esperado pela área - composta pelo mercado imobiliário, por obras públicas, pelo segmento privado de ampliação de unidades comerciais e industriais e pela autoconstrução e reforma pelas famílias - para o ano que vem é de 8,8%, após a expansão prevista de 1% neste ano, que foi marcado pelos efeitos da crise financeira global. A indústria de materiais projeta vendas internas 15,7% maiores em 2010, ante a queda esperada de 8% a 10% este ano. Já o varejo de materiais prevê expansão de 10%, em relação ao crescimento de 4% a 6% estimado para 2009.
A habitação e o crescimento da economia serão os principais vetores para a expansão esperada para a construção em 2010, conforme a consultora da FGV Projetos, Ana Maria Castelo. No segmento de habitação, estão incluídas a produção por parte das construtoras e o consumo de materiais pelas famílias para construção e reforma. O Sindicato das Empresas de Compra, Venda, Locação e Administração de Imóveis Residenciais e Comerciais de São Paulo (Secovi-SP) divulgou, recentemente, estimativa de aumento de lançamentos e vendas do mercado imobiliário brasileiro de 10% a 15% em no ano que vem.
No início de 2008, o anúncio das metas de lançamentos das empresas apontava volume 50% superior ao de 2007. As incorporadoras pretendiam recorrer ao mercado de ações ou de dívida para financiar seu crescimento e produzir o que tinha sido lançado. Não havia preocupação com a demanda, pois prazos oferecidos pelos bancos possibilitavam que as prestações coubessem no bolso dos compradores. Mas a piora das condições do mercado tornou inviáveis novas captações por meio de ações e, em seguida, passou a ser mais difícil recorrer a debêntures. Incorporadoras reduziram metas ou se descomprometeram a cumpri-las.
Bem diferente do início de 2008, o ano de 2009 começou num ambiente em que cautela era a palavra de ordem para incorporadoras, bancos e potenciais consumidores. A febre de lançamentos vista na primeira metade de 2008 cedeu lugar ao foco na venda dos estoques. Mas à medida que os incentivos governamentais para o setor foram anunciados a partir do fim de março, as empresas começaram a tirar a mão do freio pela primeira vez desde o agravamento da crise, em outubro do ano passado.
O principal estímulo à retomada da demanda foi o anúncio do programa "Minha Casa, Minha Vida", focado na fatia da população com renda de até dez salários mínimos. Outra medida foi o aumento do valor máximo do imóvel financiado com recursos do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) e da poupança de R$ 350 mil para R$ 500 mil. Essas mudanças levaram potenciais compradores de volta aos plantões de vendas e incentivaram que as empresas voltassem a lançar produtos, principalmente para os segmentos econômico e de média renda e a anunciassem e revisassem metas para cima. De maneira distinta da euforia vista em 2007 e nos primeiros meses de 2008, a retomada dos lançamentos passou a ser acompanhada de cuidados como mais prazo para a pré-venda dos imóveis.
Apesar de não ter havido descontinuidade das obras, as vendas das indústrias de materiais recuaram durante 2009. De janeiro a outubro, as vendas internas de materiais caíram 14,81% em relação ao mesmo período do ano passado, segundo a Associação Brasileira da Indústria de Materiais de Construção (Abramat), e a produção teve retração de 9%. Na avaliação do presidente da Abramat, Melvyn Fox, as quedas teriam sido ainda mais acentuadas sem as reduções, desonerações e prorrogações de Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) de materiais anunciadas pelo governo.
No início do ano, a Abramat estimava crescimento de 5% das vendas domésticas de materiais em 2009. Em abril, a projeção foi revista para expansão de 3%. Em meados do ano, a entidade não esperava mais que houvesse crescimento e, em setembro, já previa queda de 5%. No fim de novembro, a previsão passou a ser de redução de 8% a 10%. O varejo de materiais apresentou desempenho melhor que o da indústria. Segundo a Associação Nacional dos Comerciantes de Material de Construção (Anamaco), as vendas do varejo devem crescer de 4% a 6% este ano.
Quando a crise se acirrou, em outubro de 2008, os estoques do varejo e das construtoras estavam em patamares acima da média, pois até então havia preocupação com o risco de desabastecimento. A combinação de estoques elevados com a piora da economia resultou na redução do ritmo de compras de materiais pelo varejo. Até março, houve restrições no crédito para os consumidores finais. A partir de abril, começaram a vigorar as novas alíquotas de IPI de materiais, mas, como o varejo ainda estava abastecido com estoques, a indústria não sentiu a reação da demanda na mesma proporção do comércio.
Fonte: Jornal do Comércio
Construção entra em 2010 com expectativa de crescimento
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