Projeto Mão na Massa qualifica mulheres para a construção civil.
Crescimento da economia e obras do PAC motivaram a idealizadora.
Nada de curso de manicure ou cabeleireira. A jovem Eliziane Sousa, de 22 anos, quer ser pedreira. “Acho que tinha que abrir mais oportunidades para mulheres em empregos que hoje são só para homens. A gente ainda depende de homens só para matar barata”, ironizou ela, afirmando que gosta de obra e é boa em eletricidade.
Eliziane estuda à noite e espera que o marido a ajude mais com os serviços domésticos quando ela começar a pegar pesado nas obras: “Ele só faz faxina. Não lava, cozinha nem passa roupa. Acho que daqui a uns anos a mulher vai mandar nos homens em muitos empregos. Por exemplo: vai ter mais mulher chefe e homem secretário”, disse.
“Mulher pode trabalhar em obra sim, é só abrirem as portas. O problema é que quando abrem, a gente entra e toma conta”. A frase é da engenheira Deise Gravina, idealizadora do projeto Mão na Massa, que qualifica mulheres, gratuitamente, para trabalhar na construção civil e que, na manhã desta quarta (4), recebeu cerca de 300 delas para a inscrição da nova turma, que tem 60 vagas. Na terça (3) outras 100 já haviam se inscrito.
Segundo a engenheira, o aquecimento da economia brasileira e as novas obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) no Rio de Janeiro foram os motivos que a levaram a seguir adiante com a idéia de inserir a mulher nesse mercado de trabalho, que ainda é visto como só para homens. Deise acredita que com as Olimpíadas de 2016 a cidade vai virar um canteiro de obras e as novas pedreiras vão se aproveitar desse momento.
Pedreira e carpinteira são as duas funções que essas mulheres, com idade de 18 a 45 anos, desejam exercer daqui a seis meses – tempo de duração do curso. O salário inicial é de R$ 760,00. Mas, segundo as organizadoras, como a hora-extra na construção civil é de 100%, a maioria, após seis meses de emprego, acaba ganhando mais do que mil reais.
Vantagens femininas
Para Deise, as vantagens em se trabalhar com a mulher numa obra são muitas: elas são mais detalhistas, mais limpas, organizadas, mais econômicas com o material (porque sabem administrar e não desperdiçam) e estão sempre querendo mais serviços.
A fundadora do Mão na Massa contou que quando começou a carreira, dando ordens aos peões, pensava: “Se tivesse uma mulher aqui, ficaria mais bem acabado”. Deise contou ainda que ser forte não é mais necessário nessa profissão, já que hoje há maquinários que evitam o uso excessivo da força. “Hoje o concreto já vem pronto, por exemplo”, disse ela, que acredita que o grande desafio é vencer o paradigma e impor respeito diante dos homens nas construções.
Lúcia Helena dos Santos, de 33 anos, é casada com um militar, tem três filhos e nunca trabalhou com carteira assinada porque o marido “é um ditador”. Ela chegou às 7h20 desta quarta na fila de inscrição, que só começou às 8h, e esperou por mais de três horas para ser atendida. “Eu vim porque quero liberdade, meu marido nem sabe que estou aqui, vai ficar chocado”, contou ela, que tem o sonho de estudar pedagogia, “mesmo que seja a última coisa na minha vida”, completou.
“Meu pai era pedreiro e eu sempre dei palpite em obra. A mulher está conquistando esse espaço porque é mais detalhista e eficiente. Eu que faço tudo lá em casa, até trabalho de eletricista, e fica muito bom. Meu marido não faz nada”, afirmou ela, entusiasmada com o novo rumo da sua vida.
Batom e poeira
Empolgada, Carla Araújo Nogueira, de 23 anos, disse que foi acordada pelo marido para não perder a inscrição do curso de pedreira e carpinteira, que terminou nesta quarta. “Já fui babá, auxiliar de serviço, vendedora de loja em shopping, mas trabalhar em obra nunca me veio à cabeça. Quando pensei que poderia consertar a casa dos meus pais, vi que isso podia ser um sonho”, disse.
A vaidade feminina não perde a vez, mesmo com capacete e botas de pedreira. Segundo a fundadora do projeto, elas todas usam maquiagem e só não colocam brinco porque é proibido. Carla brincou: “Vai ter que misturar poeira com batom”.
Ela contou que vem de uma família pobre e que sempre ajudou a mãe nas obras da casa: “Puxei a minha mãe, não tenho medo de eletricidade e ajudo a carregar tijolo. Ela que fez o banheiro todinho da minha casa”. Para Carla, o trabalho da mulher sempre fica mais bonito, pois o homem não se preocupa com o acabamento.
O projeto
O projeto, promovido pela Federação de Instituições Beneficientes, começou em 2007 e já qualificou 150 mulheres. Dessas, 70% estão empregadas. Em janeiro de 2010 abrirá uma nova turma, dessa vez com 100 vagas para carpinteiras.
Orgulhosa dos bons resultados, Deise contou que as empresas por onde as formadas passaram ficaram satisfeitas e querem trabalhar com as mulheres. “Temos meninas de 20 anos ganhando R$ 1.300 e que nunca tinha pegado em um serrote”.
Matemática, português, informática, preservação do meio ambiente e segurança do trabalho fazem parte da grade de aulas do curso. A qualificação profissional é realizada através do Senai. As mulheres também realizam aulas práticas, supervisionadas por uma equipe de engenheiros, arquitetos e técnicos de edificação.
Por Carolina Lauriano Do G1, no Rio.
Fonte: G1
Projeto Mão na Massa qualifica mulheres para construção
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