Com investimento público, emprego dispara na construção pesada.
Os investimentos puxados pelo setor público fizeram a diferença em 2009. Segundo cálculos da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), 70% dos negócios do setor contaram em 2009 com financiamentos ou incentivos da esfera pública, levando em consideração o Orçamento da União, as estatais e os recursos aplicados por Estados e municípios. No ano passado, esta participação foi de 60%.
Foram importantes para o desempenho do setor as obras de infraestrutura federais e estaduais e os programas de habitação popular, impulsionados por medidas que facilitaram o crédito à população de baixa renda. Segundo Arlindo Moura, vice-presidente da CBIC, as habitações de interesse social acabaram gerando crescimento a partir do terceiro trimestre e serão importantes para que a industria da construção feche 2009 com crescimento real de 1% nas receitas em relação ao ano passado.
A demanda puxada pelo setor público não beneficiou apenas as construtoras. Na Vocal Comércio de Veículos, braço da Volvo para revenda de caminhões, os empreendimentos estimulados pelo setor público contribuíram significativamente para manter as vendas de 2009 no mesmo patamar de 2008. Os pedidos direcionados para obras públicas começaram a se intensificar no fim do ano passado e ganharam corpo ao longo deste ano, conta o diretor-superintendente da Vocal, Cláudio Zattar.
Além de encomendas de empreiteiras, outros mercados importantes para a empresa são a agroindústria e as redes varejistas. Os equipamentos mais voltados para as empreiteiras – betoneiras, caçambas e caminhões acima de 440 cavalos, destinados ao transporte de equipamentos pesados, como guindastes, por exemplo – tiveram crescimento de 55% nas vendas, em comparação com o ano passado.
Os veículos mais pesados, destinados às obras públicas, diz Zattar, devem fechar o ano com 50% de aumento em volume de vendas em relação a 2008. O desempenho é considerado notável pelo diretor, levando em conta que a previsão da empresa é fechar o ano com queda de 12% na comercialização de caminhões . “As obras públicas, principalmente o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), foram fundamentais, e quase protagonistas das vendas em 2009″, diz o diretor da Vocal.
As vendas destinadas aos empreendimentos incentivados pelo setor público, explica Zattar, representaram um diferencial em relação ao ano passado e ao histórico de vendas da indústria de caminhões. A participação dos veículos pesados (voltados à construção de obras) no total das vendas passou de 13%, em 2008, para 30% neste ano.
Astor Schmitt, diretor corporativo da Randon, fabricante de implementos e veículos rodoviários, diz que as obras públicas estimulam as encomendas de empreiteiras e prestadores de serviços para prefeituras, Estados e governo federal. Segundo ele, a recuperação é mais ou menos uniforme por todo o país.
No segmento de retroescavadeiras, usadas principalmente em obras de infraestrutura urbana, e também adquiridas diretamente por governos municipais e estaduais, as vendas deste ano devem empatar com as de 2008, enquanto na linha de caminhões fora-de-estrada, o desempenho deve ficar pouco abaixo do ano passado.
Este é um bom resultado, afirma Schmitt, levando em consideração que as vendas totais dos fabricantes brasileiros de reboques e semirreboques rodoviários – principal segmento de negócios da Randon – recuaram 32,4% de janeiro a outubro – para 32,2 mil unidades – na comparação com igual período do ano passado.
As obras puxadas pelo governo fizeram o setor de construção despontar na criação de novas vagas em 2009. De janeiro a outubro deste ano, em relação ao mesmo período de 2008, houve crescimento de 7,1% no total de trabalhadores empregados na construção civil. “Houve, sem dúvida, grande influência das obras públicas para essa elevação”, diz Ana Maria Castelo, consultora da Fundação Getulio Vargas.
O aumento foi gerado principalmente pelos novos postos de trabalho em infraestrutura, que responderam pelo crescimento de 8,1% no número de empregados. O setor imobiliário contribuiu com 4,8%. Ana Maria chama atenção para o fato de os investimentos públicos também estimularem o setor imobiliário. “Na verdade, a influência do o setor público foi maior ainda, já que os programas de construção de casas populares, por exemplo, são classificados no segmento imobiliário.”
Para Ana Maria, as obras públicas continuarão a ser importantes na geração de novos postos a partir do próximo ano. “Há expectativa de muitas obras de infraestrutura em razão da Copa e da Olimpíada , além dos empreendimentos privados para todas as faixas de renda.” Entre os Estados que mais tiveram crescimento no saldo de novos trabalhadores estão Piauí, Pernambuco, Maranhão, Goiás e Rio de Janeiro.
No setor de cimento, a grande diferença, acredita José Otavio de Carvalho, vice-presidente executivo do Sindicato Nacional da Indústria do Cimento (SNIC), foi dada pelos programas de habitação. Em pelo menos parte de 2009, explica, era esperado um certo arrefecimento no consumo do cimento, em função de adiamento de lançamentos. Mas o consumo de 51 milhões de toneladas, registrado em 2008, deve se repetir este ano, o que pode ser explicado pelos programas de habitação de casas populares, como o Minha Casa, Minha Vida, entre outros.
“Sem dúvida esse tipo de habitação, voltado à baixa renda, considerada de elevada demanda, deu uma alavancagem”, afirma Carvalho. “O que faz a venda de cimento não é uma obra aqui ou ali, mas sim o consumo de formiga agregado”, diz. “E esses programas geraram isso. São construções de Norte a Sul do país, em todas as regiões e espalhadas pelo interior.”
Antônio Corrêa de Lacerda, economista da PUC-SP, lembra que os investimentos e incentivos públicos têm efeito contracíclico e multiplicador, provocando a aplicação de recursos também pelo setor privado. Lacerda lembra que os investimentos públicos totais aumentaram nos últimos cinco anos, mas ainda continuam relativamente baixos.
Fernando Montero, economista-chefe da corretora Convenção, tem análise semelhante.
Ele chama a atenção para investimentos maiores a partir de 2008, mas ainda pequenos em relação ao Orçamento da União. Nos 12 meses encerrados em outubro de 2009, os investimentos federais somaram R$ 32,1 bilhões, cerca de um ponto percentual do PIB. Sua participação no total de despesas federais, sem transferências para Estados e municípios, chegou a 5,7% nos 12 meses encerrados em outubro, mesmo percentual de 2008. Em 2007, foram 4,9%, e em 2006, 4,3%.
Por Marta Watanabe, no jornal Valor Econômico
Fonte: Vermelho / Valor Econômico
Emprego dispara na construção pesada
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